Este blog foi criado como complemento à nossa aula de Teoria e Crítica das Artes. Somos todos alunos de mestrado em Educação, Artes e História da Cultura do Mackenzie, e estamos aqui para dividir nossas reflexões, idéias, pensamentos inspirados pela aula da professora Márcia. Sejam todos muito bem-vindos!
domingo, 10 de abril de 2011
A confiança na própria poética e o “Botulismo”
Recentemente os jornais de todo mundo noticiaram a situação vexatória em que se colocou o importante filósofo e acadêmico francês Bernard-Henri Levy, fundador da revista "La Règle du Jeu" e colunista da revista "Le Point" e de diversos jornais em diferentes países, que se viu obrigado a vir a publico desculpar-se por ter citado uma falsa biografia de Immanuel Kant como fonte de pesquisa em sua obra lançada em fevereiro último, "De la Guerre en Philosophie" (Sobre a guerra na filosofia).
A falsa biografia de Kant, que foi apresentada por Levy ao meio acadêmico como sendo de autoria de um “especialista” em Kant, um “importante” filósofo de nome Jean-Baptiste Botul, leva o título “A vida sexual de Immanuel Kant”, e no seu prefácio diz tratar-se de uma série de cinco conferências desse “filósofo” Botul em maio de 1946 no Paraguai.
Ocorre que, nunca existiu o filósofo Botul. O semanário Le Nouvel Observateur, logo após a edição do livro de Levy, divulgou a gafe e esclareceu que essa obra sobre a intimidade de Kant, de fato, foi uma pilhéria do jornalista francês Frederic Pages (que prefacia a obra) e que já editara outras obras sob o psudônimo de Jean-Baptiste Botul.
Lamentavelmente Henri Levy foi enganado, mas de forma indesculpável, pois qualquer pesquisador sabe que deve verificar suas fontes com o máximo de profundidade.
Porém, meu espanto, que não foi pequeno diante do equívoco de Levy, foi maior quando, diante do inusitado, adquiri e li a obra.
A obra é totalmente inverossímil. Traz até versos obscenos atribuídos a Kant, o que, por si só mereceria um cuidado maior de Levy e sabe de quem mais ? Pasmem...
A obra foi editada pela Editora UNESP em 2001, como coisa séria.
Fica patente que a obra foi assumida pela UNESP como obra autêntica de um intelectual nominado Botul, quando essa chega a discutir o mérito de seu conteúdo, sem jamais duvidar da existência do filósofo fake. Nela não há qualquer referência de que se trata de uma fantasia do jornalista Pages.
Li alhures a palavra de um dos responsáveis pela edição da UNESP dizendo que a publicação teve intenção jocosa... (pois sim...com certeza após saber do “imbróglio”).
Não bastasse mencionar ser o autor um intelectual, a edição da UNESP apresenta uma biografia do mesmo, risível, diga-se de passagem, informando que Botul foi íntimo de Maria Bonaparte e desafeto de Jean Cocteau.
Isso tudo reforça o que nos tem sido sugerido em classe pela professora Márcia Tiburi, sobre o quanto temos que nos conscientizar de nosso direito à dúvida e da capacidade que temos de julgar, obviamente com devido respeito aos aspectos positivos do mundo acadêmico, porém com confiança em nossa própria poética e capacidade crítica, o que diminui a possibilidade em nossas vidas de ocorrências de “Botulismo” de que foram vítimas, Henri Levy, UNESP e com certeza muitos outros.
Romualdo Bacco
Abril 2011
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