segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mães de Maio

“É muito triste e pobre quando o sexo é somente cópula ou descarga, o filho é somente corpo, a música é só som, um quadro é somente uma tela”.
Návia Pattussi

Este mês de maio se comemora o “Dia das Mães”, aos católicos o “mês de Maria” (não cabe aqui a pretensão de fazer qualquer menção religiosa ou comercial que a data impõe), o que significa, na verdade, quão são abençoados aqueles que podem viver este momento em sua plenitude e essência, seja  com a própria  “mãe” ou como “mãe”.

Agradeço a Deus todos os dias por ter minha mãe presente em minha vida, com saúde e disposição para exercer a maternidade triplamente como mãe, avó e bisavó... Que sorte e prazer poder vê-la realizar – se no maior e mais importante “papel” de sua vida..... e apesar de seus oitenta e poucos anos, o desempenha com excelência e de forma esplendorosa.

Em contrapartida, nesta época, sou tomada por uma sensação de angústia e dor, pela luta constante de um desejo que ainda não se concretizou, porém sem perder a esperança de que no próximo ano, nesta data, estarei com meu filho nos braços ou no ventre, porque apesar das possíveis tentativas frustradas de engravidar, ainda não desisti de SER MÃE, um desejo que se faz presente desde a minha adolescência, do filho que já mora dentro de mim, que vive nos meus sonhos, em meus pensamentos, ora um menino, ora uma menina, ou ambos.... Quem não conhece as causas relacionadas a concepção, o que alguns denominam infertilidade, dificilmente consegue imaginar o quanto ela é devastadora e angustiante. O quanto consome nossas energias, causando um verdadeiro estresse a cada ciclo que chega, a espera que os hormônios estejam em equilíbrio... Estudos já foram feitos e concluíram que o sentimento é semelhante à dor do luto de um ente querido.

Por esta razão, pergunto: O que é verdadeiramente ser mãe? Será que toda mulher nasce com o instinto materno? O que representa a maternidade para aquelas que ao dar a luz, “jogam” - o fruto de seu ventre - seus filhos - literalmente, em caçambas de lixo, rios, vasos sanitários de banheiros públicos ou os renegam por alguma deficiência, poderiam estas mulheres ser classificadas como MÃES? Ou simplesmente reprodutoras?

Ora, vivemos em um século em que querer ou não um filho é uma decisão pessoal e intransferível e deve ser tomada com responsabilidade, independente de classe social ou econômica, e que pode ser evitado, quando não é desejado naquele momento. Por outro lado, ao assumir, por livre e espontânea vontade a criação de um filho, é preciso ter ciência das responsabilidades e obrigações que implicam a tarefa de cuidar e educar um ser humano. Tarefa esta que não é fácil, porém nobre e gratificante quando se tem um amor “incondicional” que supera adversidades, que faz concessões, reavalia valores e crenças, sente prazer e dor, medo e culpa, mas faz tudo isso valer à pena. Apesar de todos os papéis que a mulher desempenha atualmente em nossa sociedade, como esposa, amante, dona de casa, profissional, acredito que o da maternidade seja o mais importante e significativo, caso contrário, os demais não teriam sentido.

UMA MÃE DESNATURADA é sim aquela que tem filhos, mas não os assume como partícipes de sua vida, quando os coloca como obstáculos à carreira, à diversão, a liberdade, a solidão necessária, o que se torna insensato, uma vez que, pode  realizar-se em todos os aspectos, e que ser mãe exige dedicação, tempo, porém não representa ter que abdicar de seus interesses pessoais e desejos....

Contraditoriamente, concordo com a Márcia ao descrever em seu artigo “Mãe desnaturada” de que uma mulher não pode ser condenada pela sociedade ou vista como um ser “anormal”, pelo simples fato de não querer ser mãe, e escolher outros caminhos para sua vida. Uma mulher pode decidir ser ou não MÃE, sem sofrer represálias ou ser denominada de desnaturada, insensível, egoísta pela sociedade machista em que vivemos que rejeita qualquer manifestação, que altera as regras sociais impostas. É preciso desmistificar o mito da maternidade, enraizado em nossa cultura, de que toda mulher nasceu para ser MÃE, não é e nunca será uma verdade absoluta, principalmente pelo que presenciamos em nosso cotidiano.

Ser Mãe é uma dádiva, e acredito que seja uma experiência única, indescritível, porém, não serve a todas as mulheres, aquelas que não desejam desfrutar a maternidade, devem ser respeitadas pela escolha que fazem, da mesma forma - o filho rejeitado ou indesejado - deve ter o DIRETO à VIDA, ser respeitado e tratado com dignidade, em qualquer tipo de circunstância.
 
Paula Moisés

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