sábado, 21 de maio de 2011

Você Pensa o que Acha que Pensa?

O interessante desse livro (Você Pensa o que Acha que Pensa? De Baggini e Strangroom editora Zahar) é que após expor as idéias de vários filósofos que pensaram sobre a arte para que o leitor tenha uma imagem global do que seja pensar sobre arte, o leitor pode realizar um teste para saber se o que ele acha que pensa sobre determinado assunto corresponde com os resultados do teste. Seria uma desmistificação de idéias pré- concebidas e sacramentadas e que temos plena convicção delas, porém numa análise mais cuidadosa permitida através do teste cai-se em contradição jogando por terra as certezas. O livro traz temas como: “Monte seu Deus”, “Quão livre você é?” “Tabu” “O Jogo da Moral” e outros. Na introdução do livro uma provocação: “Não há dúvida de que Descartes era uma camarada muito inteligente. No entanto, seja por culpa dele ou de seus seguidores, é possível descobrir que vem dele uma porção de falsas concepções sobre a natureza humana”. Trata-se de uma motivação para um exercício constante de análises de nossas opiniões e de que as mudanças podem ocorrer a todo o momento e a flexibilidade pode imperar sobre a rigidez.



Célia Cristina



A obra transmite uma lição de moral importante ou nos ajuda a viver melhor nossas vidas





A idéia de que a arte deva promover a elevação moral pode parecer pitoresca hoje, quando frequentemente se afirma que ela está isenta dos padrões comuns da ética. Há uma visão romântica do artista como alguém que não deve sofrer censura e ter a liberdade de se expressar e de criar conforme sua musa o inspirar.

Entretanto, questiona-se tradicionalmente a importância da moral na arte. Tolstoi apelava para a moral por achar óbvio que o fato de gostarmos de uma obra de arte ou a apreciarmos de um jeito ou de outro era uma questão exclusivamente subjetiva. Qualquer tentativa de prescrever padrões objetivos de gosto está condenada ao fracasso. Mas havia um modo de julgar objetivamente uma obra de arte: quanto ao seu conteúdo moral. Assim, por exemplo, ao avaliar se um romance é bom ou ruim, estamos apenas manifestando as nossas opiniões. Mas quando indagamos se o romance transmite uma mensagem moralmente virtuosa, podemos chegar a uma conclusão com que todos os julgadores sensatos podem concordar.

Esse argumento é importante porque tem conseqüências para a subvenção pública da arte. Tolstoi achava injustificável subvencionar as artes se o valor delas estava apenas no prazer que proporcionavam. Por que subsidiar alguns prazeres, como a ópera e a dança, e não outros, como a bebida?

Também se argumentou em favor da importância da arte com outros fundamentos. Schiller afirmava que por meio da arte somos capazes de nos abrir para o mundo e dar a ela um sentido para nós mesmos através do jogo criativo que ela oferece. Isso nos permite trabalharmos para sermos pessoas melhores.



As características formais da obra de arte são harmoniosas e/ou belas





As obras de arte muitas vezes são vistas como representativas: um retrato representa uma pessoa, um romance representa uma série de acontecimentos e uma peça musical, talvez, uma emoção. Entretanto, muita gente argumenta contra essa concepção. Uma visão alternativa é que não é o fato de a arte representar algo (se de fato representa) que faz a grande arte. É a maneira pela qual as características formais da obra de arte se reúnem.

Isso fica mais evidente ao analisarmos uma pintura cubista ou abstrata. O que torna grande uma obra de arte desse tipo é a maneira como cores, formas e texturas se juntam para formar um todo harmonioso ou agradável. Isso talvez seja ainda mais aceitável na música, onde não existe uma representação óbvia, mas os sons dos diferentes instrumentos e o arranjo compõem um todo agradável.

Essa idéia foi desenvolvida no início do século XX por Clive Bell, em seu conceito de forma significante na obra de arte. A idéia também aparece em Kant, para quem uma apreciação estética apropriada acontecia apenas na contemplação desinteressada das obras; as considerações sobre o que arte representa ou relata ficam de fora, e a obra é analisada apenas em si mesma.

O grande problema dessa visão da arte é que aparentemente ela não se aplica a qualquer arte. Por exemplo: só é possível entender a força de Guernica, de Picasso, com a explicação do que ela representa: o grande sofrimento do povo e dos animais bombardeados por Franco durante a Guerra Espanhola. Analisar apenas os aspectos formais da pintura parece deixar de lado o que nela é o mais importante.

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