quarta-feira, 11 de maio de 2011

"O que é a Grande Arte?"

Oi, meus queridos!
Estou lendo o livro “Você Pensa o que Acha que Pensa?” de Baggini e Stangroom e resolvi postar algo que achei interessante. Cada dia postarei um pouco. Beijos!
Célia Cristina.


O que é a Grande Arte?


Uma pintura num museu ouve mais opiniões
 ridículas que qualquer outra coisa no mundo.
Edmond de Goncourt

O que faz de algo uma grande obra de arte? Quais artistas produziram as maiores obras de arte do mundo? Essas perguntas provocam discussões intermináveis e, provavelmente, sem conclusão. Mesmo assim, não conseguimos evitar perguntá-las – talvez porque, embora as respostas nunca sejam definitivas, não podemos aceitar que não haja nenhuma resposta. Se alguém afirma que as obras da banda REO Speedwagon são melhores que as de Mozart, ou que Ozzy Osbourne é um poeta maior que Keats, nós não só percebemos que temos gostos diferentes, mas sentimos que, em certo sentido, a outra pessoa simplesmente está errada.
Esse teste investiga o que você realmente acha que faz uma grande obra de arte. Afinal, quem sabe? Pelos seus critérios, talvez REO Speedwagon sejam gênios musicais.
Existem respostas infindáveis para a pergunta “o que faz de algo uma grande obra de arte”, porém seis tipos gerais de respostas têm sido apresentados repetidamente na história da estética e da teoria da arte.

Critérios Estéticos

A obra demonstra uma grande habilidade técnica

Curiosamente, a habilidade de um artista não foi uma questão central na história da estética filosófica e em geral não é o cerne da concepção de arte de filósofos. Às vezes assume-se que a habilidade é essencial, já que o que se considerou arte sempre exigiu habilidade técnica para ser criado. Mas desde o advento da arte conceitual e da possibilidade de um objeto, como um urinol, poder virar uma obra de arte simplesmente por ser conceitualizado de determinada forma, o papel da habilidade do artista na arte tornou-se uma questão mais relevante.
Alguns filósofos também afirmaram não haver lugar para o artista na apreciação de uma obra de arte, o que implica não ser necessário avaliar se ele é ou não habilidoso. Uma manifestação disso é a idéia da falácia intencional apresentada por William Wimslatt e Monroe Beardsley: “O projeto ou a intenção do autor não é válido nem desejável como critério de julgamento do sucesso de uma obra de arte literária.” O que eles dizem sobre autores poderia igualmente ser dito sobre outros artistas.
Por outro lado, o filósofo britânico contemporâneo Roger Scrutton escreveu que “uma pessoa para quem não faz a diferença se uma escultura foi esculpida pelo vento, a chuva ou a mão do homem é incapaz de interpretar e mesmo observar esculturas.” Para Scrutton, é vital para a apreciação estética que ao menos se veja o trabalho artístico como algo criado e projetado pelo artista.

A obra pode ser fruída

Muitos filósofos consideram que o prazer que a arte proporciona tem importância para o valor dela. Mas praticamente todos que afirmam isso insistem em fazer uma distinção entre prazer estético “apropriado” e outros prazeres que possamos sentir.
Kant marca bem essa distinção. Para ele, o verdadeiro prazer estético é “desinteressado”. O que ele quis dizer com isso é que o prazer deve ser independente de qualquer consideração sobre a essência do real objeto da apreciação estética. Consideremos, por exemplo, o prazer que olhar para um homem ou uma mulher atraente nos provoca. Grande parte desse prazer não é desinteressada no sentido Kantiano, porque está ligado ao desejo por aquela pessoa. A possibilidade, real ou imaginária, de fruir o corpo daquela pessoa é parte do prazer que sentimos ao olharmos para ela. Para a genuína apreciação estética de uma pessoa, este prazer deve estar exclusivamente na contemplação da sua aparência, sem levar em conta nenhum pensamento sobre a sua existência real.
Muitos outros filósofos tentaram distinguir o puro prazer estético de outros prazeres mais “crus”. Ananda Coomaraswany, por exemplo, fala sobre o conceito indiano de rasa que é uma forma diferente de prazer estético e que deve ser distinguido dos prazeres comuns, tais como os de comer e beber. A experiência de rasa é mais afim da experiência religiosa que da função sensorial.
Evidentemente, isso significa que, se milhões de pessoas fruem da música de Britney Spears, é possível dizer que esse não é propriamente um prazer estético. Se essa distinção é válida ou meramente uma desculpa para o esnobismo, isso é um ponto para se discutir com mais cuidado em outra ocasião.

A obra transmite os sentimentos do artista

A concepção de que o ponto essencial da arte seja comunicar os sentimentos do artista é uma idéia romântica e de amplo apelo popular. R.G. Collingwood contribui com a base para essa caracterização da arte. Entretanto, devemos compreender bem o que isso significa para ele. Não é que a arte seja uma espécie de explosão espontânea da emoção. Pelo contrário, a habilidade do artista está na capacidade de articular sua emoção através da forma de arte que escolheu. A arte expressa os sentimentos do artista e os transmite para o público, porém ela não é a simples expressão dos sentimentos, como um grito de prazer, dor ou medo.
Tolstói tinha uma visão semelhante. Segundo ele, o objetivo de uma obra de arte é induzir certos sentimentos no espectador, leitor ou ouvinte. Para ele o artista fazia muito mais do que meramente expressar os seus sentimentos: precisava ter a capacidade e a habilidade de induzir no público os mesmos sentimentos. Outro detalhe importante sobre Tolstoi é que ele acreditava que, ao menos que a emoção induzida fosse de algum modo moralmente estimulante, a obra de arte não tinha valor algum. Ele não concordava com a idéia romântica de que o artista deve expressar qualquer sentimento que tiver – apenas as emoções elevadas.

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