segunda-feira, 7 de março de 2011

Cisne Negro - Uma questão de desejo.

Estava pensando sobre o que deveria escrever em nosso blog e me veio em mente um turbilhão de idéias ou “conceitos” que de forma (in)direta nos tocam no decorrer de nossa existência. Esses dias de carnaval em que a cidade esta mais tranqüila me possibilitou analisar comportamentos que muitas vezes são deixados de lado, devido o ir e vir de nosso cotidiano frenético nesta selva de pedra que se chama São Paulo.
Com mais tempo livre finalmente pude assistir o filme: Cisne Negro que premiou a atriz americana Natalie Portman com o Oscar, confesso que não fui ao cinema por este motivo, fui devido à atração que sinto pelo ballet e pelo comentário positivo de não poucos amigos. Quando as primeiras cenas passaram diante os meus olhos pude perceber que não era o ballet em si o ponto central da obra, mas a busca pela perfeição mascarada pela violência seja ela física ou psíquica que encerra a trama.  
Ousadia, timidez, medo, desejo, loucura, conceitos que perpassam o corpo do filme e de sua protagonista se fazem presentes em maior ou menos escala em nossas vidas, a frase: “A única pessoa que está no seu caminho é você mesma”, é a espinha dorsal da obra e me faz refletir que em uma sociedade como a nossa onde impera a competitividade, a frase é uma forte alusão aos que querem e almejam “vencer na vida” sob a égide capitalista que modela em grande parte nosso cotidiano.
Superar-se, vencer os obstáculos, dar um sentido maior a nossa mortal existência eis o grande paradigma humano que nos assola sobre vários aspectos, desde o campo da saúde como: depressão e loucura tão bem retratada na obra de Darren Aronofsky, como a busca da felicidade e perfeição por meio da superação de nossos medos e angustias. Ao ver esse filme, me veio à tona um texto maravilhoso de Sigmund Freud que caiu em minhas mãos há pouco tempo, publicado em 1930 sob o titulo O Mal-Estar na Civilização segundo o pai da psicanálise: “o homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança”, leia-se projeção, no lugar de segurança.
Essas projeções que se manifestam muitas vezes em nossos desejos e em nossas relações humanas são frutos de uma cultura social do qual ninguém (mesmo eu que escrevo estas linhas neste dia nublado de segunda feira, e você que lê) escapa. Temos discutido muito estes temas em sala de aula, através de discursos e problematizações sobre o que é arte? Como esta palavra arte é consumida? E quem as consome? e com qual intenção? Prefiro apenas acrescentar a dar fim a uma discussão repleta de bons posicionamentos em sala de aula e mesmo fora dela. Arte para mim é o que me toca, é o que me faz refletir, e acima de tudo me faz tomar uma posição diante a algo trazendo novos significados e conceitos antes não pensados e agregados ao meu dia-a-dia.


André Albuquerque

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