sexta-feira, 11 de março de 2011

Imagens Incoscientes

Em consonância com a nossa aula de Teoria  Crítica da Arte da última quinta ,11/03 ministrada pela professora Márcia Tiburi que nos trouxe conceitos de Belo e Feio no plano ´histórico,,traçando uma evolução filosófica sobre o belo,a percepção e o sentimento bem como explicou sobre a existência de gênios defendidos pelos gregos que eram como uma consciência interior ,dentro dos artistas , como se fossem uma expressividade irracional que conduz à criar. À partir desse pensamento que se refere à uma dimensão transcendental ,encontrei no Museu do Prado na Espanha  algumas obras de uma coleção  intitulada “ Imagens Inconscientes”,e resolvi trazer  para nossa turma

Isaac Liberato
Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1906, filho único de um velho e rico negociante. Viveu isolado até os oito anos, longe do convívio com outras crianças. Aos nove anos perdeu o pai, ficando sob os cuidados da mãe.
Aos dezenove anos, realizando um sonho de menino, ingressou na Marinha Mercante como radio-telegrafista, fazendo inúmeras viagens nas rotas internacionais.
No intervalo entre essas viagens namorou uma vizinha loura e bonita. Em 1930, voltando de uma viagem à Europa, casou-se com esta jovem. Três meses após o casamento rompe com a esposa. Em dezembro do mesmo ano é internado no Hospital da Praia Vermelha.
Dezesseis anos depois Isaac começou a freqüentar o recém inaugurado ateliê de pintura da Seção de Terapêutica Ocupacional no Hospital de Engenho de Dentro. Isaac é sempre o primeiro a chegar e procura logo o material para iniciar os seus trabalhos, demonstra grande interesse e prazer em pintar, principalmente telas a óleo. Pintava lentamente e gostava de tocar ao piano, de ouvido, músicas que lembravam Debussy.
A primeira surpresa que a pintura de Isaac nos traz é a flagrante diferença entre a sua linguagem verbal e sua linguagem plástica. Ele raramente constrói proposições – sua linguagem é agramatical e cheia de neologismos. Entretanto, através da linguagem plástica narra uma história diretamente compreensível e concatenada, que jamais verbalizaria.
Desde o início, suas pinturas já prenunciavam o desenvolvimento artístico que ele alcançaria ao longo do tempo, como fica evidente nas paisagens onde vê-se sua procura em reter os reflexos mutáveis da luz e descobrir as nuances das cores.
Entre as diversas temáticas que aparecem em sua pintura destaca-se constantemente a figura da mulher sob mil formas.
No dia 6 de julho de 1966 Isaac chegou ao ateliê, como de costume, por volta das oito e meia. Em sua terceira pintura, retrata a última imagem da mulher amada. Pintura inacabada., Isaac morre com o pincel na mão, vítima de enfarte do miocárdio.

Sobre Isaac
Dos pintores conhecidos da Seção de Terapêutica Ocupacional era Isaac o mais velho, depois de Emygdio, que vivia absorvido nas profundezas de sua pintura. Isaac, porém, com seus dons pessoais cheios de humor e de surpresas, cativava as monitoras e monitores que relembram até hoje suas improvisações ao piano e seus ditos bem-achados: Um exemplo: quando a monitora Maria do Carmo voltou das férias, Isaac muito alegre pergunta: "- Onde você andou? Pensei que lhe tivessem internado no hospício!"
Suas paisagens respondem aos mesmos apelos de subjetividade dos retratos. Estas, com efeito, não deixam de apresentar uma qualidade íntima e seus acordes de cor tendem a fundir-se tonalizados na mesma atmosfera musical. Belo e profundo espírito.
Mário Pedrosa
Mário Pedrosa define Isaac como uma pessoa que "...reduz tudo ao contato interior, sem condutos objetivos, sem rumores de fora, numa vivência que é antes auto-expressão ardente e densa, e pura desmatéria. " Diante de definição tão precisa, ficamos absortos por essas paisagens de cores pálidas e vibrantes, como a incendiar nosso olhar que, de tão externo, esquece o vinculo com a interioridade, que a força plástica de Isaac nos faz lembrar.
Isaac nos oferece paisagens que alternam zonas de cores tranqüilas e extensas com cores que se precipitam em zonas em que o pincel se agita de forma rápida, criando uma composição que é igual às forças da natureza, porque igual à sua natureza interna. A precisão de Isaac nasce de um mergulho na sua interioridade. Essas imagens captam o mistério do olhar, que é ordenar a dispersão, e que Isaac domina porque faz convergir essas imagens para onde o olhar é mais próximo do que ele é, isto é, na desmatéria.
Essas paisagens são quase fugidias: mais um momento estariam dispersas na imaterialidade do tempo. Isaac as retém um momento antes da ida. No momento mais próximo ao da memória; no liminar da dispersão. É no espaço do entre e do quase, que essas imagens se constituem. É na delicadeza da interioridade - dura e sofrida - da constituição de uma subjetividade, que é tomada pelo afeto e pelo amor, que essas imagens vêm à visão.
Essas paisagens são amorosas. São quase declarações de amor. São quase como olhar a mulher amada e fazer o olhar deslizar pela carne, num toque delicado e aveludado, sem tocá-la. Há nessas paisagens uma distância mínima necessária para não nos deixarmos corromper pela crueza da realidade. Há uma sabedoria da desmatéria. Há uma compreensão de uma inocência necessária - estranha talvez para as personalidades de caráter mais belicoso - de que o mundo se dá entre o entre e o quase. É lá que repousa a pulsão plástica. É lá que encontramos a justa distância para que o olhar mergulhe no fundo do poço, que é cada um de nós.
Márcio Doctors







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