sábado, 12 de março de 2011

Entre Benjamin e Belting



Walter Benjamin
Dois alemães, pilares dos estudos sobre teoria e crítica das artes. Walter Benjamin, por vezes classificado como partidário da Escola de Frankfurt e Hans Belting, historiador contemporâneo das artes visuais, foi professor titular da Universidade de Munique e depois atuante na Escola Superior de Criação, em Karlsrushe, ambas na Alemanha. Em ambos, várias convergências, dos quais destacamos duas.

Quando Benjamin escreveu o ensaio intitulado A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (publicado em 1955), estava apontando o início e o fim de uma era nas artes visuais. Apesar da reprodução sempre ter ocorrido através de exercícios propostos aos discípulos pelos seus mestres (da pintura, por exemplo), a partir da litografia (início do século XIX), o novo tipo de reprodução acelerada levou à perda da autenticidade (o “fazer agora”, em determinado local), ao fim da aura (o singular da obra, o distanciamento entre criador e apreciador) e, o objetivo transposto do mínimo para um máximo de possíveis “clientes” se fez de forma avassaladora. Era o fim de uma maneira de se produzir arte iniciada na modernidade, que irá culminar no final do século XIX e início do XX no desenvolvimento da fotografia, do gramofone e do cinema.

Hans Belting
Nesse sentido, Belting aproxima-se de Benjamin ao propor O fim da história da arte (publicado em 1983), em seu livro homônimo. Belting não está direcionando suas críticas ao fim da feitura das artes ou aos estudos históricos e acadêmicos associados. O que ele discute e promove é uma nova visão sobre a forma de construção de ambas, que, de tão díspares na visão acadêmica tradicional (eurocêntrica e lacrada em sufocantes compartimentos cronológicos), camufla a novidade dos formatos, idéias, movimentos e possíveis entendimentos sobre o contexto da obra, do artista, suas influências e seu período. 

O discurso do “fim” não significa que “tudo acabou”, mas exorta a uma mudança no discurso, já que o objeto mudou e não se ajusta mais aos seus antigos enquadramentos (BELTING, p. 08).

Em outra convergência, quando Benjamin alega que a reprodutibilidade técnica emancipa a arte de sua “existência inútil” e que seu papel é nesse momento, político (BENJAMIN, p. 03), ele traz a problemática da função da arte. 

Se, para Benjamin, o cinema (por exemplo) era um formato artístico possível de campanha política e acesso democrático – “Retrógrada diante de Picasso, ela se torna progressista diante de Chaplin.” (BENJAMIN, p. 10) -, transportando a função da arte, antes ritual, agora para um campo político e social, para Belting o público poderia fazer suas escolhas (BELTING, p. 22), assim como os artistas se tornarem autônomos, a partir desse novo cenário que se desdobra com as novas tecnologias, buscando sua própria ciência e sentido:
A arte autônoma buscava para si uma história da arte autônoma que não estivesse contaminada pelas outras histórias, mas que trouxesse em si mesma o seu sentido. (BELTING, p. 24) 

            Se houve mudanças nas artes, sua história deve acompanhá-las. Se elas tiveram um início também promoveram um fim com a chegada de novas linguagens artísticas. Entre Benjamin e Belting, diversos outros “encontros” são possíveis, trazendo para o arcabouço histórico das artes a certeza de que “um método” pode ser válido para “um objeto” de pesquisa e, por isso a ciência teórica e crítica das artes não deve parar de se reinventar nunca. 

Sérgio Pereira

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