terça-feira, 22 de março de 2011

Trágico, terror, vandalismo, Stockhausen, arte, pichação....

Como na última aula foi falado sobre o trágico, tanto no contexto grego antigo como na utilização usual da sociedade contemporânea, ligado a acontecimentos catastróficos, não pude deixar de lembrar da polêmica gerada pelas palavras do compositor Karlheinz Stockhausen sobre uma das maiores catástrofes desse início de século, o ataque ao World Trade Center, em Nova York: “das größte Kunstwerk, das es je gegeben hat” ( http://www.stockhausen.org/hamburg.pdf ), ou seja, “a maior obra de arte que já existiu”.

A partir disso lembrei também da nossa primeira aula, quando o assunto pichação entrou em cena e o questionamento entre arte e vandalismo foi feito. É arte ou vandalismo? Quais os limites?

Como no caso de Stockhausen, entendo que o mesmo questionamento pode ser feito. Arte ou terrorismo?

Para além dessas questões eu também me pergunto: Por que um “ou” outro? O fato de alguma produção estético-cultural, como certas pichações ou mesmo o ataque às torres de Nova York (guardadas as devidas proporções, é claro!) ser criminosa, invalida sua inserção ao mundo das artes? Será que não há possibilidade de serem um “e” outro?

Não há como negar o caráter performático de uma pichação em um prédio privado, por mais que isso seja crime. Não há como negar que o ataque ao WTC também foi uma performance, feita para o mundo ver, capaz de produzir experiências estéticas em pessoas das mais diversas culturas, nos mais diversos lugares do planeta; uma performance capaz de arrebatar um público de milhões, feito esse que nenhuma obra de arte já produzida na história da humanidade foi capaz de alcançar – foi esse o ponto de vista de Stockhausen.

Será que o fato desta performance ter sido um ato terrorista brutal e abominável diminui sua potência artístico-expressiva, sua capacidade de produção simbólica?

Sendo a sociedade contemporânea marcada pela complexidade, creio eu que o “ou” não seja capaz de explicá-la (se é que um dia foi capaz de explicar o que quer que fosse).

Entendo também que o fato de chamarmos tais atos de arte parece endossá-los (tanto que foi essa a crítica feita pelo compositor György Ligeti a Stockhausen), parece dar-lhes um sentido positivo. Mesmo tendo sido capazes de apreender o feio, o grotesco, o incômodo, o inquieto, como arte, vemos a arte como uma produção positiva, benéfica à sociedade e seus indivíduos. Nunca como criminosa. Soma-se a isso a dificuldade de vermos um ataque terrorista ou um ato de vandalismo como produto da nossa própria sociedade, ou seja, de nossa própria criação. Tendemos a vê-lo como algo feito por outros contra nossa sociedade, quase como um ataque alienígena. O que deveria servir para reflexão e transformação da sociedade acaba reforçando os mesmos paradigmas geradores do problema.

Na verdade a discussão sobre arte feita aqui, a meu ver, é secundária. Ela traveste uma discussão ética em que o importante é descobrir a ideologia que está por trás das diversas concepções sobre arte, a ideologia por trás dos critérios de validação ou invalidação de um ato ou objeto enquanto arte.


De qualquer maneira, acho que o assunto dá um bom debate.


Grande abraço a todos

Lazlo Rahmeier

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