quinta-feira, 24 de março de 2011

FILOSOFANDO NA BANCA DE JORNAIS

Não assino revistas. Gosto de “visitar” as bancas de jornais. Não só para escolher uma ou duas publicações, mas para olhar as capas, folhear, xeretar. Tem de tudo: gastronomia, bordado, pornô, história, misticismo, psicologia, filosofia, cinema, grandes invenções, mercado de trabalho e receitas para se tornar um Bill Gates.  Mas o que sempre mais me intrigou é a sobrevivência editorial das ditas revistas populares femininas. Aquelas que trazem em detalhes coloridos as “intimidades” das eleitas  celebridades.

Nelas, as leitoras (grande maioria) ficam sabendo quem transou com quem, quem casou com quem, quem brigou com quem, quem viajou para onde, quem teve filho de quem e outros segredinhos dos “artistas”. Por muito tempo, acreditei que a principal origem da atração por essas publicações fosse a fofoca. Ao desejo incontrolável do fuxico e da maledicência reinante entre vizinhos, amigos e familiares transportado para o mundo mágico da televisão e dos abonados. Afinal, a conversa muda quando o agressor de mulher é o Dado Dolabella, a detida por roubo de calcinhas é uma bela e rica atriz de Hollywood e a briga de casais envolve Lázaro Ramos e Taís Araújo. Afinal, a fofoca, o “comentário sem maldade”, é um exercício cotidiano, moral e socialmente aceito, do impulso destruidor do homem pelo homem. 

Mas a coisa vai além. Essas revistas colocam as leitoras dentro da “vida” de personagens considerados ídolos, por serem atores, cantores, mulheres de jogadores de futebol ou apenas ricos. Elas participam das viagens à Europa, dos casamentos luxuosos, dos banhos de piscina, das festas de gala, das estréias de shows. As páginas coloridas as colocam lado a lado com as celebridades do momento, já que na maioria dos casos a concessão do título é efêmera.

Será que os editores leram Walter Benjamin? Pergunto, porque as origens da grande procura por essas publicações (segundo jornaleiros, algumas chegam a esgotar em dois dias) podem ser avaliadas a partir da leitura do texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. A receita de sucesso de vendas tem como ingrediente principal a fantasiosa inclusão dos mortais no mundo dos deuses da mídia, o que reflete a preocupação apaixonada das massas modernas de fazer as coisas ficarem mais próximas. A “mitologia das celebridades” é reproduzida através dos recursos de comunicação (não artísticos) da fotografia. O que pode ser analisado não apenas no âmbito da reprodução de imagens, da valorização da exposição, mas também da massificação de desejos e valores, da universalização do que é belo, do que é o sucesso, do que é a felicidade.  

Nota de rodapé: Eu assisto televisão. Às vezes por pura necessidade de entorpecimento (devido aos raríssimos conteúdos de qualidade) e outras para tentar entender a origem de certos “fenômenos de audiência”.

Maria Cristina

Um comentário:

  1. Cris
    ...
    Em caras de presidentes
    Em grandes beijos de amor
    Em dentes, pernas, bandeiras
    Bomba e Brigitte Bardot...

    O sol nas bancas de revista
    Me enche de alegria e preguiça
    Quem lê tanta notícia???
    Eu vou
    ...
    Alegria, Alegria (Caetano Veloso)

    Abraços,

    Marcos Chiesa

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